sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A medicina da doença


“Prevenir é melhor que remediar”, todos sabemos. Dr. Carlos Bayma, médico especializado em Uro-Neurologia e Medicina Preventivo-Regenerativa, mostra que a prescrição indiscriminada de medicamentos para qualquer  sintoma pode ser uma forma de manutenção da doença.

“Aos 30 anos você tem uma depressãozinha, uma tristeza meio persistente, nada demais, entretanto você decide ir ao médico. O doutor prescreve  Fluoxetina. A Fluoxetina dificulta seu sono. Então, ele prescreve  Clonazepam, o Rivotril da vida. O Clonazepam o deixa meio bobo ao acordar e reduz sua memória. Volta ao doutor e ele nota que você aumentou de peso. Aí, prescreve Sibutramina. A Sibutramina o faz perder uns quilinhos, mas lhe dá uma taquicardia incômoda. Novo retorno. Ele observa que você, além da “batedeira” no coração, também está com a pressão alta.

Então, prescreve-lhe Losartana e Atenolol, este último para reduzir sua taquicardia. Você já está com 35 anos e toma: Fluoxetina, Clonazepam, Sibutramina, Losartana e Atenolol. E, aparentemente adequado, um “polivitamínico” é  prescrito. Um “de A a Z” da vida, que pra quase nada serve. Mas um apresetador de TV disse que é ótimo. Você acreditou, e comprou. Lamento! Já se vão R$ 350,00 por mês. O dinheiro a ser gasto em investimentos e lazer escorre para o ralo da indústria farmacêutica.

Você começa a ficar nervoso, preocupado e ansioso, apesar da Fluoxetina e do Clonazepam, pois as contas não batem no fim do mês. Começa a sentir dor de estômago e azia. Seu intestino fica “preso”. Vai a outro doutor. Prescrição: Omeprazol + Domperidona + Laxante "Natural". Os sintomas somem, mas só os sintomas. Outras queixas aparecem. Dentre elas, uma é particularmente perturbadora aos 37 anos, apenas. A potência sexual! Além de estar “brochando”, tem pouquíssimo esperma e a libido está abaixo dos pés. Para o doutor da medicina da doença, isso não é problema. Até manda você escolher o remédio: Viagra, Cialis, Levitra ou similares, escolha por pim--pam-pum. Sua potência melhora, mas, como consequência, esses remédios dão dor de cabeça, palpitação e congestão nasal. Nada demais, o doutor aumenta a dose do Atenolol e passa uma Neosaldina para você tomar antes do sexo.

Quando tudo parecia solucionado, aos 40 anos, você percebe que seus dentes estão mal e caindo(pode ser o antidepressivo).Tome grana pra gastar com o dentista. Nessa época, outra constatação: sua memória está falhando bem mais que o habitual. Ginkgo Biloba é prescrito. Nos exames de rotina, sua glicose está em 110 e seu colesterol em 220. Noutro receituário, o doutor prescreve Metformina + Sinvastatina. “É para evitar Diabetes e Infarto”, diz o cuidador de sua saúde! Aos 40 e poucos anos, você já toma: Fluoxetina, Clonazepam, Losartana, Atenolol, Polivitamínico de A a Z, Omeprazol, Domperidona, Laxante "Natural", Viagra ou Cialis ou Levitra, Neosaldina (ou “Neusa”, como chamam), Ginkgo Biloba, Metformina e Sinvastatina (convenhamos, isso tá muito longe de ser saudável). Mil reais por mês e sem saúde!

Outro contratempo surge: o antidepressivo o faz urinar demoradamente e com jato fraco, fazendo-o levantar duas vezes à noite para  ir ao banheiro. Lá se foi seu sono, extremamente necessário para sua saúde. Mas isso é fácil para seu doutor: você já tem mais de 40 anos e ele prescreve Tansulosina, para ajudar a urinar. Você melhora, realmente, contudo... não ejacula mais. Não sai nada! Vou parar por aqui. Isso não é medicina. Isso não é saúde. Você está obeso, sem disposição, com a ereção sofrível, memória e concentração deficientes. Diabético, hipertenso e já suspeita de câncer. Dentes: nem vou falar. O peso elevado arrebentou seu joelho. Um doutor  cogitou até colocar uma prótese. Surge na sua cabeça a ideia maluca de procurar um Cirurgião Bariático, para “reduzir seu estômago” e um Psicoterapeuta para cuidar de seu juízo destrambelhado.

Sem grana, triste, ansioso, ainda deprimido, pensando em dar fim à sua minguada vida e... Doente, muito doente! Apesar dos “remédios”. A  indústria farmacêutica? “Vai bem, obrigado!”, mais ainda com sua valiosa contribuição por anos ou décadas. E o seu doutor? “Bem, obrigado!”, graças à sua doença. Médico deveria ser remunerado pela saúde que proporciona e não pela doença que, algumas vezes, ajuda a provocar ou não ajuda a dissipar.

Por Carlos Bayma (Urologista)

Algomais Saúde
Março/2013